GIL VICENTE

PRANTO DE MARIA PARDA

Porque vio as ruas de Lisboa com tão poucos ramos nas tavernas, e o vinho tão caro e ella não podia passar sem elle


EDIÇÃO POPULAR


DECIMA SEGUNDA EDIÇÃO
(oitava em separado das obras varias)


Preço 20 rs.

AS TRES BIBLIOTHECAS
Empreza de Urbano de Castro e Alvaro Pinheiro Chagas
Rua da Barroca, 72--Lisboa
1902

Offic. a vapor da Pap. Estevão Nunes & F.os--Aurea, 58--Lisboa

Pranto de Maria Parda

Por que vio as ruas de Lisboa com tão poucos ramos nas tavernas e o vinho tão caro, e ella não podia viver sem elle


DECIMA SEGUNDA EDIÇÃO

OITAVA EM SEPARADO DAS OBRAS VARIAS

ADVERTENCIA IMPORTANTE


ADOLESCENTES DE UM E OUTRO SEXO!

Sob um titulo que vos poderá attrahir este livro contem mysterios de iniquidade.

Se o abrisseis depois d'este pregão, só de vós mesmos, vos podéreis queixar. Não é para vós que foi escripto. Quem o apresentasse, ou o permittisse, só esse seria o seu Invenenador

Estas palavras escreveu-as Antonio Feliciano de Castilho na primeira pagina da traducção dos Amores de Ovidio

O Pranto de Maria Parda não encerra mysterios de iniquidade, mas tambem não deve ser lido pela innocencia.

Offic. a vapor da Pap. Estevão Nunes & F.os--Aurea, 58--Lisboa

PRANTO DE MARIA PARDA

Por que vio as ruas de Lisboa com tão poucos ramos nas tavernase o vinho tão caro, e ella não podia viver sem elle

Eu so quero prantearEste mal que a muitos toca;Que estou ja como minhocaQue puzerão a seccar.Triste desaventurada,Que tão alta está a canadaPera mi como as estrellas;Oh! coitadas das guelas!Oh! guelas da coitada!
Triste desdentada escura,Quem me trouxe a taes mazelas!Oh! gengivas e arnellas,Deitae babas de seccura;Carpi-vos, beiços coitados,Que ja lá vão meus toucados,E a cinta e a fraldilha;Hontem bebi a mantilha,Que me custou dous cruzados.
Oh! Rua de San Gião,Assi 'stás da sorte mesmaComo altares de quaresmaE as malvas no verão.Quem levou teus trinta ramosE o meu mana bebamos,Isto a cada bocadinho?Ó vinho mano, meu vinho,Que ma ora te gastamos.
Ó travessa zanguizarraDe Mata-porcos escura,Como estás de ma ventura,Sem ramos de barra a barra.Porque tens ha tantos diasAs tuas pipas vazias,Os toneis postos em pé?Ou te tornaste GuinéOu o barco das enguias.
Tríste quem não cega em verNas carnicerias velhasMuitas sardinhas nas grelhas;Mas o demo ha de beber.E agora que estão erguidasAs coitadas doloridasDas pipas limpas da borra,Achegou-lhe a paz com porraDe crecerem as medidas.
Ó Rua da Ferraria,Onde as portas erão mayas,Como estás cheia de guaias,Com tanta louça vazia!Ja m'a mim aconteceoNa manhan que Deos naceo,Á hora do nacimento,Beber alli hum de cento,Que nunca mais pareceo.
Rua de Cata-que-farás,Que farei e que farás!Quando vos vi taes, chorei,E tornei-me por detras.Que foi do vosso bom vinho,E tanto ramo de pinho,Laranja, papel e cana,Onde bebemos JoannaE eu cento e hum cinquinho.
Ó tavernas da Ribeira,Não vos verá a vós ninguemMosquitos, o verão que vem,Porque sereis areeira.Triste, que será de mi!Que ma ora vos eu vi!Que ma ora me vós vistes!Que ma ora me paristes,Mãe da filha do ruim!
Quem vio nunca toda AlfamaCom quatro ramos cagados,Os tornos todos quebrados!Ó bicos da minha mama!Bem alli ó Sancto EspritoIa eu sempre dar no                        
...

BU KİTABI OKUMAK İÇİN ÜYE OLUN VEYA GİRİŞ YAPIN!


Sitemize Üyelik ÜCRETSİZDİR!