Jayme de Magalhães Lima

José Estevão

 

 

 

 

França Amado, Editor.

Coimbra. 1909.

 

 

 

JOSÉ ESTEVÃO

 

 

 

Composto e impresso naTypographia França Amado,
rua de Ferreira Borges, 115--Coimbra.

 

 

 

 

JAYME DE MAGALHÃES LIMA

JOSÉ ESTEVÃO

 

 

 

 

COIMBRA

F. FRANÇA AMADO, EDITOR

1909

{VII}

 

 

 

Póde o racionalismo alinhar argumentos para annular o despotismo daauctoridade pessoal e nos persuadir de que os unicos poderes legitimos, nadirecção individual ou collectiva dos homens, são a consciencia e a verdade,reveladas e illuminadas pelo pensamento, pela logica, por um exame intimo,completamente alheio á consideração e interferencia das qualidades e daattracção ou repulsão d'aquelles que nos cercam, presentes aos nossossentimentos, em contacto immediato ou na imaginação e recordação historica.Póde mesmo no rigor da deducção levar-nos a confessar que assim deve ser,quando o espirito attingir uma maioridade authentica, uma independenciaetherea. Mas a realidade das cousas, perseverante, na placida e indulgenteironia em que docemente escarnece da{VIII} firmeza dos conceitos e das presumpções darazão, continua a deixar-se levar mais pela seducção das pessoas do que pelaexactidão e belleza dos systemas. Afasta do caminho abstracções, ainda as maisbem fundadas, não desiste de ordenar que os homens se guiem por influenciashumanas e lhes obedeçam, preterindo por esse modo e sem cessar as determinaçõese instancias de syllogismos, que facilmente atraiçoamos a cada passo,convencidos todavia da perfeita bondade e rectidão do nosso proceder.

Por certo, uma força occulta nos conduz; e, pela energia e tenacidade,deverá ser tão legitima como os mandados da razão. Dir-se-ia que, para setornar efficaz, a doutrina, sobretudo a doutrina moral, carece depersonificação consentanea e de exemplo. Porventura, nem{IX} a sublimidadechristã teria conseguido triumphar se Jesus, pobre, flagellado, paciente, a nãohouvesse santificado, immolando-lhe o sangue perante as multidões e o vulgo,se, pelos actos mais do que pelas palavras, não houvesse dado testemunho, atéao martyrio e morte ignominiosa, da plena consubstanciação do corpo e doespirito arrebatados n'uma unica aspiração. Uma mysteriosa e vaga leipsychologica quererá talvez que a verdade só seja verdade quando se mostrou emfórma palpavel, e só possa dominar dominando-nos pela capacidade e fascinaçãodos homens nos quaes transitoriamente encarnar.

D'essa tendencia á confiança e abdicação na auctoridade estranha nãoencontrei melhor exemplo, em toda a minha vida, do que a preponderancia de JoséEstevão em Aveiro entre{X} os homens da sua geração e entre aquelles queimmediatamente lhe succederam.

Quando comecei a sentir conscientemente o que em volta de mim se passava, játinha morrido José Estevão. Mas que profundo e absoluto imperio não o viexercer?!... Que largo e indisputado reinado! A sua vontade era a sentençaultima; o seu julgamento a suprema justiça. O que queria elle? O que desejava?Como apreciava os factos e as intençõ

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