SOCIEDADE DE GEOGRAPHIA DE LISBOA
SOCIOLOGIA CHINESA
AUTOPLASTIA
TRANSFORMAÇÃO DO HOMEM EM ANIMAL
ESTIOLAMENTO E ATROPHIA HUMANA, CASOS DE TERATOLOGIA.
PELO
DR. MACGOWAN
NOTA DESTINADA Á X SESSÃO
DO
CONGRESSO INTERNACIONAL DOS ORIENTALISTAS
PELO TRADUCTOR
DEMETRIO CINATTI
S. S. G. L.
LISBOA
IMPRENSA NACIONAL
1892
Proclamações officiaes e noticias publicadas pelas folhas periodicassobre a recrudescencia do roubo de creanças, nesta (Kuangsi) e nasprovincias adjacentes2revelam dous factos importantes da Sociologia Chinesa. Consiste o primeirona crença de que os que roubam gente possuem certas drogas que,administradas ás victimas, as põem sob completo imperio da vontade dopropinador, assumpto de que não vou agora occupar-me. O segundo factoinforma-nos que as drogas produzem a aphasia tornando o individuointeiramente incapaz de fallar, e, estiolado este, pela reclusão em logarcompletamente escuro, ou deformado por mutilação, faz-se d'elle objectoappropriado para os pelotiqueiros exhibirem ao publico. Mas, ainda queestes flagellantes crimes sejam offensa capital, não são susceptiveis decompleta repressão. Infelizmente estes actos de inhumanidade praticados nohomem pelo homem, apenas indicam uma parte das atrocidades praticadas pelosroubadores de gente. De todas as torturas que o odio politico e religiosotem inventado, nada excede o queimar e esfolar em vivo. Mas se a extracçãoda pelle se fizer por operações successivas, parte por parte, como se fazao individuo roubado para o transformar em homem animal, os soffrimentosdevem ser agonisantes, alem do que a imaginação pode conceber. É o queacontece quando a pelle humana se remove para a substituir pela do animal,urso ou cão, porque em tal caso só pequenas secções se podem praticar decada vez, afim de que o individuo possa sobreviver.
Que longo periodo não é necessario para conseguir o processo completo detransformar o homem em animal?! Que martyrisantes torturas lhe nãoinflingem antes de adquirir a apparencia e condição do bruto?! Oembrutecimento está longe do seu fim quando a pelle do animal se adaptou ácarne do homem.
Falta ainda emmudecel-o, destruindo-lhe as cordas vocaes, o que seobtem, affirma-se, pelo emprego de carvão. Não é preciso destruir-lhe afaculdade de ouvir, mas a victima é sujeita a um regimen muito egual ao quesoffreu Gaspar Stanse. O Hupao3 descreve o apparecimento de um homemtransformado artificialmente em besta, que foi exhibido no Quiangsi. Todo oseu corpo era coberto de pello do cão, que fôra substituido pela suapropria derme ou verdadeira pelle. Andava de pé (muitas vezes são mutiladosde forma que só possam andar com as mãos no chão) podia pronunciar uns sonsinarticulados, sentar se, pôr-se de pé, fazer cumprimentos á chinesa e,emfim, conduzir-se em geral como um ser humano. O magistrado, ten